Pais está entre as 10 maiores audiências entre sites que veiculam fotos e vídeos com imagens sexuais diversas
Por trás dos números astronômicos está uma realidade silenciosa: milhões de brasileiros estão mergulhados no consumo desenfreado de conteúdo sexual online — e os impactos disso vão muito além do entretenimento.
“A pornografia em si não é o vilão, mas o uso descontrolado e compulsivo, sim. Temos visto cada vez mais jovens e adultos com disfunções sexuais, ansiedade, queda de libido e dificuldades de se conectar emocionalmente com o parceiro. Tudo isso está diretamente ligado ao excesso de pornografia”, alerta o Dr. Flavio Machado, médico e fundador do Instituto Homem.
Segundo levantamento das próprias plataformas, cerca de 75% dos homens e 35% das mulheres brasileiras acessaram pornografia ao menos uma vez no último ano. Esses números vêm crescendo ano após ano, impulsionados pela facilidade de acesso gratuito e pelo anonimato da internet.
A MindGeek, empresa responsável por sites como PornHub, Brazzers, YouPorn e RealityKings, está entre as três companhias que mais consomem banda larga no mundo — ao lado apenas do Google e da Netflix.
Pornografia e saúde: uma relação cada vez mais complexa
O vício em pornografia é caracterizado pela busca compulsiva e recorrente por prazer sexual por meio da visualização de conteúdos eróticos, geralmente acompanhada de masturbação frequente. Embora o tema ainda seja cercado de tabus, os efeitos colaterais já estão bem documentados na literatura médica.
“O que as pessoas consomem na internet molda seus desejos, suas expectativas e até seus relacionamentos. A pornografia cria uma ideia irreal do sexo, da performance, da estética e até da intimidade. Isso pode levar à frustração, à insegurança e, em muitos casos, à disfunção erétil”, explica o Dr. Flavio.
Estudos recentes associam o consumo frequente de pornografia a:
- Desenvolvimento de comportamentos compulsivos;
- Redução do interesse sexual;
- Problemas de ereção em homens jovens, mesmo na ausência de doenças físicas;
- Dificuldades de comunicação afetiva e relacional;
- Aumento de agressividade sexual e objetificação das mulheres.
Além disso, há uma preocupação crescente com o impacto do consumo precoce de pornografia entre adolescentes e até crianças.
Pornografia e juventude: uma geração exposta cedo demais
Um estudo da Common Sense Media, realizado em 2022, mostrou que 73% dos jovens entre 13 e 17 anos já assistiram pornografia, número significativamente maior que os 42% registrados em 2005. Ainda mais alarmante: mais da metade desses jovens foi exposta ao conteúdo antes dos 13 anos, sendo que 15% disseram ter tido o primeiro contato aos 10 anos ou menos.
“Estamos vendo uma geração que está formando sua identidade sexual com base em roteiros pornográficos. Isso é extremamente perigoso. Esses jovens crescem acreditando que o sexo é aquilo que veem nos vídeos — e isso pode gerar traumas, distorções e até um bloqueio afetivo real”, afirma o Dr. Flavio Machado.
Cerca de 58% dos adolescentes afirmaram ter encontrado esse conteúdo de forma acidental, seja por meio de links em redes sociais, aplicativos de mensagens ou simples buscas no Google.
A exposição precoce está relacionada a uma série de riscos, incluindo transtornos de personalidade, impulsividade, ansiedade e dificuldade de estabelecer vínculos emocionais saudáveis no futuro.
Uma questão de saúde pública
O crescimento do consumo de pornografia, sobretudo entre os mais jovens, tem se tornado uma preocupação de saúde pública. Profissionais da medicina, psicologia e educação têm alertado sobre a necessidade de diálogo, educação sexual de qualidade e tratamento especializado para os casos de compulsão.
“Não se trata de moralismo. É ciência. O consumo excessivo de pornografia afeta diretamente o cérebro, o comportamento e a vida sexual das pessoas. Se não tratarmos isso com seriedade, teremos uma geração cada vez mais desconectada da realidade e dos afetos”, conclui o Dr. Flavio Machado.