Um estudo recente publicado no British Journal of Pharmacology reacendeu um importante debate sobre a influência da vitamina D na saúde sexual masculina. A pesquisa, realizada em modelos animais, apontou uma relação direta entre a deficiência dessa vitamina e a ocorrência de disfunção erétil — condição que afeta milhões de homens no mundo, inclusive no Brasil.
Segundo os pesquisadores, os animais com níveis mais baixos de vitamina D apresentaram maior risco de desenvolver a doença de Peyronie — uma condição inflamatória que causa curvatura anormal do pênis, dor durante a ereção e dificuldade na penetração. Ainda que os testes tenham sido feitos em animais, os resultados abrem caminhos para investigações mais profundas no comportamento fisiológico humano e em potenciais abordagens preventivas e terapêuticas.
“Já sabemos há algum tempo que a vitamina D vai muito além dos ossos. Ela tem receptores espalhados por vários tecidos do corpo, inclusive no sistema cardiovascular, que é fundamental para a ereção. A novidade é que estudos como esse começam a ligar pontos importantes entre carências nutricionais e disfunções sexuais”, explica o Dr. Flavio Machado, médico, pesquisador e fundador do Instituto Homem, referência nacional em saúde sexual masculina.
Disfunção erétil: um sintoma que fala muito sobre a saúde do homem
A disfunção erétil (DE) é definida como a incapacidade persistente de obter ou manter uma ereção firme o suficiente para a relação sexual. No Brasil, estima-se que cerca de 50% dos homens acima dos 40 anos já tenham enfrentado o problema em algum grau — e esse número tem crescido entre os mais jovens.
O que pouca gente sabe é que a disfunção erétil não é apenas um problema pontual ou “da cabeça”. Ela pode ser o primeiro sinal visível de condições sérias e silenciosas, como diabetes, hipertensão, obesidade, alterações hormonais e, como agora se suspeita, deficiências nutricionais como a de vitamina D.
“Na clínica, a gente vê de tudo: homens jovens com queixas de ereção sem nenhuma doença diagnosticada. Quando vamos investigar, muitas vezes encontramos deficiências básicas, como a da vitamina D. Isso mostra que saúde sexual é multifatorial. Não é só psicológico ou só físico. É um equilíbrio fino entre hormônios, circulação, nutrição e estilo de vida”, reforça o Dr. Flavio.
Mais do que sol: uma vitamina essencial para a vida sexual
Apesar de ser popularmente conhecida como a “vitamina do sol”, a vitamina D é um hormônio esteroide com papel central em vários processos fisiológicos. Ela regula a absorção de cálcio, fortalece os ossos, modula o sistema imunológico e, mais recentemente, passou a ser estudada por sua ação nos sistemas cardiovascular e endócrino, diretamente ligados à ereção.
Segundo o estudo, manter níveis adequados de vitamina D pode ajudar a:
- Melhorar o desempenho sexual;
- Reduzir inflamações vasculares, facilitando a circulação sanguínea no pênis;
- Aumentar a eficácia de tratamentos contra disfunção erétil;
- Prevenir a fibrose peniana, como a observada na doença de Peyronie.
Doença de Peyronie: o elo entre inflamação, vitamina D e impotência
A doença de Peyronie ainda é pouco conhecida, mas afeta entre 1% e 10% dos homens em algum momento da vida. Trata-se de uma condição inflamatória crônica que provoca a formação de placas de tecido fibroso dentro do pênis. Com o tempo, isso leva à curvatura peniana, dor e dificuldade em manter relações sexuais — afetando gravemente a autoestima e a qualidade de vida.
No estudo publicado, os animais com deficiência de vitamina D apresentaram maior predisposição a desenvolver a doença, sugerindo que a vitamina pode ter um papel preventivo contra a inflamação e o desenvolvimento de fibroses no tecido erétil.
“Se pensarmos que a Peyronie pode ser desencadeada por microtraumas repetitivos e inflamação, faz muito sentido investigar o papel da vitamina D nesse contexto. A inflamação crônica e a fibrose são inimigas silenciosas da função erétil”, complementa o Dr. Flavio.
Disfunção erétil tem solução — e começa com um olhar integral para a saúde
Ao contrário do que muitos homens pensam, a disfunção erétil tem tratamento — e, na maioria dos casos, pode ser revertida. Mas o caminho para a melhora não passa apenas por comprimidos. É preciso avaliar as causas profundas, que muitas vezes estão relacionadas ao estilo de vida, alimentação, desequilíbrios hormonais ou condições metabólicas como a resistência à insulina.
De acordo com o Dr. Flavio Machado, o ideal é que os homens incluam a avaliação dos níveis de vitamina D nos seus exames de rotina, especialmente se apresentam sintomas como:
- Baixa libido;
- Fadiga constante;
- Queda na testosterona;
- Dificuldade para manter ereções firmes.
Além disso, é fundamental adotar hábitos que favoreçam a produção e manutenção dos níveis ideais da vitamina, como:
- Exposição solar regular (15 a 20 minutos por dia, com braços e pernas expostos);
- Alimentação equilibrada, incluindo peixes gordurosos, ovos, cogumelos e leite fortificado;
- Suplementação com orientação médica, quando necessário.
A disfunção erétil é um sinal de alerta para a saúde masculina, e sua abordagem deve ser completa e cuidadosa. A deficiência de vitamina D, muitas vezes negligenciada, pode ser um fator crucial por trás de problemas de ereção e até mesmo da doença de Peyronie, uma condição que afeta a função sexual e a qualidade de vida dos homens.
O mais importante é que, como qualquer outro problema de saúde, a disfunção erétil pode ser tratada — e, em muitos casos, revertida. A chave está em identificar as causas subjacentes, buscar orientação médica adequada e adotar um estilo de vida saudável.